segunda-feira, 14 de abril de 2014

A MULHER DO VIZINHO - COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO




A mulher do vizinho

Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.
          O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.
          O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fábrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:
          — O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: duralex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.
           Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:
           — Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?
           O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.
           — Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?
           Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:
           — Da ativa, minha senhora?
           E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:
           — Da ativa, Motinha! Sai dessa...
Fernando Sabino

                                                   COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO


01.  De acordo com o texto, o que gerou a situação conflituosa do texto?

02.  No primeiro parágrafo do texto, o narrador usa alguns recursos que o eximem da veracidade dos fatos narrados. Observe o trecho inicial do conto:

“Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia.”
                a)    Que pessoa do discurso indica o pronome me em destaque?

               b)   Por que da expressão “contaram-me”, o leitor é capaz de identificar com precisão   a             origem da história? Explique.

               c)    O conto “A mulher do vizinho” é narrada em 1ª ou 3ª pessoa?

           d)    Qual seria a diferença de sentido, se o trecho inicial do conto tivesse sido iniciado desta forma?
Na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general do nosso exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia.

            e)    Por que podemos afirmar que o uso da 1ª pessoa pelo narrador, no início do conto, é
um recurso para se descomprometer da veracidade dos fatos?

03.  Qual é o assunto tratado nesse texto?

04.  Em que momento da narrativa se dá o clímax da história?

05.  Que tipo de discurso foi usado nesse conto: direto ou indireto?

06.  Com que objetivo foi escrito esse conto?

07.  Algumas expressões presentes no conto não fazem parte do vocabulário cotidiano de grande parte das pessoas; no entanto, analisando o contexto, é possível identificar a ideia que cada uma sugere. Então, escreva o que significam, nesse contexto, as seguintes expressões:
a) Passar uma chamada:                         b) Casa da sogra:
       c) Ir em cana:                                             d) Morou?

08. Faça o resumo do texto, retirando de cada parágrafo sua ideia principal.


RESPOSTAS

01.  Os filhos do sueco jogando futebol com bola de meia, e às vezes a
      bola caía no carro do general.



02. a) 1ª pessoa.
b)       . Porque percebe-se que a história foi contada por outra pessoa.
 c) 3ª pessoa
d) Nesse caso o narrador conhece a história da qual conta.


e) Ao fato dele atribuir na história que contaram para ele, nesse caso ele se descompromete totalmente do assunto contado.

03. O espanto do delegado ao conhecer a mulher do vizinho.

04.  8º e 9º parágrafo. 


05. Indireto.

06.  Para mostrar que se deve conhecer as pessoas antes de falarem alguma a seu respeito ou intimá-la para uma eventual situação

07. a) convocar. b) fazer o que bem quiser. c) preso. d) Sacou, agora?

08. O autor no primeiro parágrafo se descompromete da veracidade dos fatos narrados. E ainda ocorre a situação conflituosa do texto. O sueco e a mulher comparece à delegacia, obedecendo a convocação do delegado. Este repreende o sueco pela má disciplina dos filhos. A mulher do sueco apresenta uma descompostura para com o delegado. Este desalentado ficou sem palavras ao conhecer que aquela mulher era peixe grande.  E deu o caso por encerrado.